Investimento sustentável: o momento para se envolver

À medida que as pessoas compreendem melhor a sustentabilidade, refletem mais sobre o que esta realmente significa. Um aspeto é a “participação ativa”, em que os gestores de investimentos influenciam os conselhos de administração e as equipas de gestão das empresas para que ​​sejam devidamente consideradas práticas mais sustentáveis em prol da criação de valor a longo prazo.

O Estudo de Investidores Globais 2023 indica que as pessoas reconhecem e apoiam o conceito e consideram que melhorará o rendimento dos investimentos. E quanto mais experiência de investimento têm, mais acreditam na participação ativa.

Incentivar as empresas a agir de forma sustentável ajuda-as a gerar valor a longo prazo

A participação ativa envolve muitos juízos de valor e pode ser complexa. Muitos especialistas financeiros salientam, no entanto, que a participação ativa exerce uma força positiva. Também melhora o retorno dos investimentos, incentivando a administração da empresa a adotar práticas empresariais sustentáveis.

Quase todos os inquiridos já ouviram falar de participação ativa, embora 17% tenham admitido não saber o que significa. No entanto, à medida que os seus conhecimentos de investimento aumentam, as pessoas compreendem o conceito nitidamente: entre aquelas que avaliam os seus conhecimentos de investimento como especialistas, 75% disseram ter uma compreensão clara do termo e da sua definição.

Quem concorda plenamente que incentivar as empresas a serem sustentáveis cria valor acrescentado?

A participação ativa tem geralmente mais poder nas mãos dos gestores de fundos, que agregam participações maiores e se reúnem regularmente com a direção de topo no seio das empresas, proporcionando uma oportunidade para impulsionar mudanças positivas. Isto significa que os gestores de fundos devem decidir quais as questões de sustentabilidade mais importantes e às quais se deve dar prioridade quando mantêm diálogos com as empresas. O inquérito proporciona uma visão única sobre o modo como as pessoas querem que os seus gestores de fundos se envolvam com as empresas.

As áreas que as pessoas consideram mais importantes para as gestoras de ativos se envolverem com as empresas

As alterações climáticas, a escolha número um, são já um elemento central da participação ativa para a maior parte dos gestores de ativos. A segunda escolha é o capital natural e a biodiversidade, que ainda é uma questão emergente para os investidores. No entanto, em setembro, uma iniciativa global conhecida como Grupo de Trabalho para a Divulgação de Informações Financeiras relacionadas com a Natureza acordou normas finais, o que significa que, com o tempo, os investidores poderão comparar as empresas globalmente em termos do seu impacto no mundo natural.

As pessoas também foram questionadas sobre as empresas que gostariam de excluir completamente da sua carteira. Foram surpreendentemente claras sobre as empresas de tabaco, que ficaram atrás apenas das empresas com emissões elevadas de carbono. Existe alguma ligação com o consumo de tabaco: as pessoas em Singapura, Suécia e Canadá — três países com taxas relativamente baixas de consumo de tabaco — mostraram a maior aversão a investir em empresas de tabaco.

As áreas que as pessoas preferiam evitar nos seus investimentos

O investimento sustentável está a evoluir rapidamente e muito aconteceu desde o Estudo de Investidores Globais 2022.

No entanto, o inquérito mostra que as pessoas continuam a ser cada vez mais atraídas pelo investimento sustentável. As pessoas deixaram de ver a sustentabilidade e os retornos elevados como opostos – o número de pessoas que se mantêm afastadas do investimento sustentável porque consideram que não proporcionará retornos mais altos viu-se reduzido em mais de metade. As pessoas acreditam que podem ter as duas coisas.

Será que as pessoas se sentem atraídas pelos fundos sustentáveis e porquê

Apesar disso, ainda há mudanças que levariam as pessoas a aumentar os seus investimentos sustentáveis. Este ano, pela primeira vez, perguntámos às pessoas se a redução das polémicas públicas as levaria a aumentar os seus investimentos sustentáveis: 8% concordaram.

Um terço das pessoas afirmaram que investiriam mais se os fornecedores de investimentos sustentáveis apresentassem um certificado de que os seus investimentos são realmente sustentáveis; o equivalente financeiro ao rótulo "Appellation d'origine contrôlée" que indica que uma garrafa de champanhe é realmente da região de Champagne, na França, e produzida usando métodos tradicionais. Este número pouco mudou em relação a 2022. Outra conclusão é que mais educação incentivaria investimentos mais sustentáveis.

Há aqui uma nuance importante. Embora muitas pessoas afirmassem que aumentariam os seus investimentos sustentáveis se os compreendessem melhor, elas sentem que sabem o suficiente para fazer alguns investimentos sustentáveis. Apenas 19% afirmaram não se sentirem tentadas a aumentar os seus investimentos sustentáveis porque "não compreendo o que é o investimento sustentável".

A barreira à entrada mais mencionada é fundamental: as pessoas querem dados que demonstrem que a sua estratégia de investimento está a ter impacto.

Esta pode parecer uma conclusão estranha: as empresas produzem agora grandes quantidades de dados sobre as suas emissões de carbono, diversidade da mão de obra, impacto na comunidade e muito mais. Por exemplo, o relatório mais recente sobre Fatores ambientais, sociais e de governação da Apple tem 85 páginas; o Livro de Dados de Sustentabilidade da Toyota é ainda maior, com 127 páginas. No entanto, isso seria muito material de leitura mesmo para uma pessoa com uma carteira pequena. Para os investidores privados, falta uma avaliação comparativa simples e não técnica que lhes permita verificar se as empresas em que investem estão a progredir em matéria de sustentabilidade. Apesar de todos estes progressos em matéria de investimento sustentável, é preciso fazer mais.